É bem verdade que a internet é democrática, é bem verdade
que por intermédio dela todos andam se expressando muito mais. E quando eu digo
em se expressar, não estou me referindo a essa terra sem dono que a rede virou,
local em que as pessoas andam se desrespeitando cada vez mais, e mais do que
isso, esquecendo-se o que é bom senso. Quando eu falo em expressões estou me
referindo às artísticas. Digo isso tendo em vista os inúmeros blogs (cof, cof)
que variam de crônicas até as poesias, das bandas de garagem, dos artistas
plásticos e etc.
E no entanto, não é por causa dessa aparente
democratização que estamos tendo acesso a mais alta produção artística de
todos os tempos, ao contrário. O grande número de informações faz com que
precisemos urgentemente de ferramentas que filtre o que é bom, fantástico, do
que é ruim, medíocre.
E é dessa necessidade que esses dois links falam sobre.
Quer dizer, eles abordam mais assuntos, mas o que me fez relacioná-los foi este
tema. O primeiro é a entrevista de André Schiffrin, editor e escritor
criador da New Press, que vem a ser uma editora corajosa: edita-se e publica-se
literatura sem visar lucro. O segundo é uma entrevista do crítico musical Tárik de Souza,
cedida à Rádio Batuta (que descobri a pouco tempo e recomendo). O objetivo da
entrevista é falar sobre a música brasileira de antes da Bossa Nova. O que vem
a ser de fato um passeio no tempo e ótimas histórias, tanto do entrevistado
como do entrevistador. Porém, acontece que o crítico se lamenta durante toda a
entrevista sobre a falta das rádios, das rádios que lançaram o Trio de Ouro,
por exemplo.
Os dois nomes concordam em praticamente os mesmos pontos:
Schiffrin diz que se Kafka escrevesse hoje, nenhuma editora iria se interessar
por ele, porque quando foi publicado pela primeira vez vendeu pouquíssimo. Hoje
em dia, nenhum editor iria se interessar justamente por isso: iria vender pouco
e não iria trazer lucro. E logo acusa a busca por dinheiro das editoras
convencionais e da Amazon como
motivos que estão matando a literatura contemporânea. Não dando chance a obras
de qualidade que se afirmam apenas com o decorrer do tempo, e preferindo sempre a publicação de livros nos formatos best-sellers, que com certeza
trazem dinheiro imediato. E é por causa dessa recusa das editoras que os escritores
estão migrando para a internet, mas como o próprio editor diz: “quando se
coloca uma coisa na internet, ela desaparece”, devido ao grande número de
informações. Apesar de Schiffrin ser utópico sobre a criação de uma legislação
que trate do mundo virtual e quanto acreditar que todos se interessam pela
Literatura, ele convence sobre a importância de um editor e mais do que isso,
de uma editora.
Na entrevista de Tárik de Souza, a editora é a rádio, uma
rádio que buscava talentos e não o dinheiro. A rádio que revelava grandes
nomes, e não optavam pelos mesmos artistas, ou pelo mesmo formato deles. Hoje
em dia, segundo ele, nas rádios vive-se a ditadura econômica. Só se ouve aquele
que tem dinheiro – e dinheiro não é a mesma coisa de talento e criatividade,
como sabemos.
Recomendo as duas entrevistas. Por estes pontos citados,
mas também porque eles falam sobre muito mais. Schiffrin é uma biblioteca (eu
quase que escrevo Wikipedia, que gafe) tamanha a quantidade de dados que guarda
em sua cabeça e com ótimos argumentos de conservar a cultura através de
investimentos em bibliotecas e etc. Enquanto que Tárik conta de uma forma
descontraída sobre a entrevista que fez com João Gilberto e o samba que compôs
com Pixinguinha. Sem dizer as canções que ele selecionou, que mereciam um texto
a parte.
Nenhum comentário:
Postar um comentário