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domingo, 22 de setembro de 2013

Nas doutrinas do século XIX


A obra O Primo Basílio (1878) do Eça de Queirós é um daqueles grandes romances puramente realista e naturalista: o objetivo é desmascarar a burguesia do século XIX Mostrar como a falta de virtude não leva a lugar nenhum, ao mesmo tempo em que toda a sociedade vive nesse vício dos falsos valores.

A obra do Eça é até hoje polêmica porque apesar de ser uma leitura divertida, cheia de ironias e figuras que se transformaram clássicas – das palavras pomposas do Conselheiro Acácio ou o cheiro de feno da Dona Felicidade – os valores que ela prega são fáceis de se tornarem ultrapassados ou até mesmo superficiais. Eu fico um pouco com o pé atrás com a figura do Eça de Queirós por causa desse livro. Eu comecei a lê-lo de trás pra frente: primeiro os livros mais tranquilos, de temas mais leves como A cidade e a Serra. E só agora que li esse romance do auge do realismo. O que me mostrou um homem de seu tempo: machista e católico.

Quando terminei de ler O Primo Basílio me perguntei se realmente todo o castigo de Luísa só aconteceu porque ela tinha uma empregada invejosa e porque suas cartas foram descobertas. Tirando isso, ela e Basílio talvez estivessem felizes até hoje no Paraíso.

Lendo um pouco por aí descobri que esse foi um comentário normal na época, o que fez a sociedade se dividir entre concordar ou discordar do livro. A verdade é que esse modelo educador e doutrinário de fazer literatura se repetiu muito naqueles anos do século XIX.

Há poucas semanas li Bel-Ami (1885), o romance de Guy de Maupassant, e desde suas primeiras linhas eu vi semelhanças com o livro do Eça. Os adultérios, a duvidosa ascensão social e os tipos sedutores da sociedade. Até que encontrei dentro de Bel-Ami  linhas que contam e definem a história d’ O Primo Basílio:

<<(...) Todas as mulheres são pegas; o que é preciso é servirmo-nos delas e não lhes dar nada de nós próprios. >>

Quem disse isso foi Jorge Duroy em Paris, mas poderia ter sido Basílio em Lisboa, ou qualquer autor realista do século XIX.

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