A obra O Primo Basílio (1878) do Eça de Queirós é um daqueles grandes
romances puramente realista e naturalista: o objetivo é desmascarar a burguesia
do século XIX Mostrar como a falta de virtude não leva a lugar nenhum, ao mesmo
tempo em que toda a sociedade vive nesse vício dos falsos valores.
A obra do Eça é até hoje polêmica
porque apesar de ser uma leitura divertida, cheia de ironias e figuras que se
transformaram clássicas – das palavras pomposas do Conselheiro Acácio ou o cheiro
de feno da Dona Felicidade – os valores que ela prega são fáceis de se tornarem
ultrapassados ou até mesmo superficiais. Eu fico um pouco com o pé atrás
com a figura do Eça de Queirós por causa desse livro. Eu comecei a lê-lo de trás pra frente: primeiro os livros mais tranquilos, de temas mais leves como A cidade e a Serra. E só agora que li
esse romance do auge do realismo. O que me mostrou um homem de seu tempo:
machista e católico.
Quando terminei de ler O Primo Basílio me perguntei se
realmente todo o castigo de Luísa só aconteceu porque ela tinha uma empregada
invejosa e porque suas cartas foram descobertas. Tirando isso, ela e Basílio
talvez estivessem felizes até hoje no Paraíso.
Lendo um pouco por aí descobri
que esse foi um comentário normal na época, o que fez a sociedade se dividir
entre concordar ou discordar do livro. A verdade é que esse modelo educador e doutrinário de fazer
literatura se repetiu muito naqueles anos do século XIX.
Há poucas semanas li Bel-Ami (1885), o romance de Guy de
Maupassant, e desde suas primeiras linhas eu vi semelhanças com o livro do Eça.
Os adultérios, a duvidosa ascensão social e os tipos sedutores da sociedade.
Até que encontrei dentro de Bel-Ami linhas que contam e definem a história d’ O Primo Basílio:
<<(...) Todas as mulheres são pegas; o que é preciso é
servirmo-nos delas e não lhes dar nada de nós próprios. >>
Quem disse isso foi Jorge Duroy
em Paris, mas poderia ter sido Basílio em Lisboa, ou qualquer autor realista do
século XIX.