É de conhecimento de todos que
quando crianças somos muito mais livres, criativos e dispostos a fazer o que
queremos, e também se tem um olhar bem mais simplista sobre a vida. Talvez essa
seja a definição de felicidade. O fato é que crescemos, ganhamos obrigações e
começamos a ter o que pode ser chamado de “outras prioridades”.
São as outras prioridades que nos
deixam práticos, menos românticos, com pouca sensibilidade e sem tempo para nos
dedicarmos a uma atividade solitária, por exemplo. A uma atividade que não nos
trará dinheiro ou nenhum benefício que poderemos aproveitar de forma pragmática.
Por isso é muito comum não entender o prazer de produzir algo a partir da
criatividade descompromissada, como quando éramos crianças mesmo. Afinal,
aparentemente, isso não serve pra nada e gasta um tempo que não volta mais.
É considerando o fim de
dezembro e pensando nessas perdas e mudanças de hábitos que sofremos enquanto
crescemos e viramos sabichões da vida, que me lembro do falecido cartão de natal.
Me refiro principalmente àquele um criado na pré-escola, aquele um que demos
aos nossos pais e eles colocaram na árvore de natal da sala, mesmo com aquelas
lantejoulas bregas e com tantos erros de ortografia. Era original, não havia nenhum
no mundo igual e um certo tempo de nosso dia foi dedicado somente para ele.
A verdade é que mesmo cedo já
passamos a não dar importância para esse tipo de atividade e seguimos para o caminho do prático. Por isso, ainda crianças
começamos a comprar os cartões prontos e entregá-los para os pais, os tios, avós, amiguinhos de
bairro e etc. Pode ser o sentimento banalizado, pode ser o sentimento de
amizade aflorado com o natal, pode ser. Mas a certeza é a repetição de
mensagens: “feliz natal e próspero ano novo!”, “que o menino Jesus te conceda
muita luz no próximo ano” e a finalização: “são os meus sinceros votos”. Ainda
repetimos essas mesmas mensagens, seja pelo o email que, além de você, foi
encaminhado também para mais de trezentas pessoas, na mensagem automática do
Orkut ou a tag do Facebook. Desejar um sentimento e demonstrar isso é muito
prático hoje em dia, mas também é impessoal e automatizado.
É verdade que se pode considerar o
natal uma data apenas e que todo esse barulho é mais feito pelos shoppings do que sentimentos puros. Mas também é verdade que as “outras
prioridades”, que nos obrigam a praticamente dirigir as horas do dia,
tiram o significado e o prazer de muitos momentos, como a atividade criativa que
geralmente gostávamos tanto durante a infância, quando a vida era simples.
A substituição dessas pequenas
dedicações nos priva de conhecermos a fundo, num significado mais subjetivo, a
nós mesmos, tornando nossas vidas de adultos e suas sensações muito
superficiais e em busca de algo que nunca saberemos o que exatamente é, e, que
na correria do dia e a necessidade de aproveitar o cada segundo, nos afasta cada
vez mais do que é nosso, do que é simples, do nosso tempo de concentração e
dedicação a uma atividade menos objetiva e mais reflexiva.