Hoje existe a Fundação Saramago.
A fundação obedece as manias do autor: tem uma beleza construída pelos
detalhes. O prédio em si já é uma pérola na história. Situada na Casa dos
Bicos, com uma arquitetura atípica do século XVI. A casa foi construída por uma
família da nobreza, mas com o passar dos anos o casarão teve inúmeras funções,
até mesmo armazém de bacalhau (veja bem, a morada da casa é a rua dos bacalhoeiros)
durante o século XX. Agora ela está sob o poderio da Câmara Municipal de Lisboa e será
da Fundação Saramago por 20 anos.
A Fundação nos aproxima mais
ainda do mundo de Saramago e, por conseguinte, de Pilar. Museus e fundações de
escritores são sempre emocionantes, têm aqueles objetos pessoais: os óculos, os
livros, as fotos. No caso de Saramago, sua agenda aberta na anotação de seu
primeiro encontro com a jornalista que depois seria sua esposa e presidente da
sua fundação. Fora os relatos de viagens e etc.
Mas a particularidade mais linda
dessa história é sobre a oliveira que está em frente ao prédio. Ela veio de
Azinhaga do Ribatejo, aldeia em que José Saramago nasceu, e junto com suas
raízes estão enterradas as cinzas do autor. A terra que envolve raízes e cinzas
são de Lanzarote, ilha do arquipélago das Ilhas Canárias, local em que Saramago
viveu durante muito tempo e até a sua morte, e onde está também localizada a
biblioteca que ele criou e inaugurou ao lado da esposa.
Bem, cinzas são só cinzas e não
dizem nada, é verdade. Mas elas estão justificadas pela descrição da
lápide, escrita no chão, logo ao lado da oliveira. Lá está: “Não subiu para as estrelas, se à terra
pertencia”. A frase foi retirada da obra Memorial do Convento, é a última frase do livro que se apresenta
exatamente assim: “(...), mas não subiu
para as estrelas, se à terra pertencia e a Bilimunda”.